terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Que condições tenho eu de escrever?

Não, hoje não. Hoje estou seco, sem palavra, sem assunto, vazio. Não, por favor, hoje não. Hoje não tem tema, não tem figura, tampouco texto. Hoje, ranger de dente, resmungos, grunhidos, só. Ontem... Ah! Fosse ontem, você, caro leitor, ia ver uma coisa. Tinha um mundo todo a lhe dizer. Epopéias, poesias, narrativas e tudo o mais. Ontem, sim, eu tinha língua. Era um homem de pé, ereto, esguio. Hoje, não. Sou velho, mudo, curvo, cabisbaixo, constrangido por se repetir. Hoje... Também, depois do que me aconteceu essa noite...

Mas o que me aconteceu mesmo? Talvez tenha sido aquele sonho. Eu de novo a deixar quem mais amo no chão. Deve ser por isso. Só pode ser. Acordei estranho, desanimado, cinzento, turvo e cheio de obrigações. Escola, tarefa, banco, contas, dívidas... Será que meu nome ainda está na lista dos inadimplentes? Que pergunta... É claro que está. Não, hoje não. Hoje eu quero mesmo é dormir, ancorar, meter-me entre os cobertores e pronto! Acordar só no domingo. Domingo sem culpa, sem hora ou prazo, domingo-preguiça, à beira de um riacho.


Riacho. Que patético. Riacho. Mas qual riacho se a fonte secou? Esqueceu, meu bem? Hoje é a mais pura seca, da terra quebrada, ratazanas, fome, dor. Hoje é família sem verbo, almoço calado, grunhidos, ausência, só.

Talvez, amanhã, caro leitor, possa lhe dar algo de novo, um presente, um aceno, um abraço. Quem sabe? Por hora, infelizmente ou não, é o que se apresenta. Tentativas frustradas de coerência, algumas frases quebradas.

Talvez, amanhã, caríssimo leitor, volte a andar direito, saia da cama e passe pela sua casa, uma visita surpresa.

- Olá. Como vai caro leitor. Tudo bem? Trouxe-lhe uns docinhos. Posso entrar?

Talvez. Eu disse mesmo: talvez. Hoje, querido leitor, quero dormir, não estou para festas. Largue-me! Deixe-me sossegar um pouco! Quem sabe assim eu melhore.

http://www.clickideia.com.br = Texto tirado do portal.

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